22 de mar. de 2013

Marcas da Paixão





















Marcas da Paixão

1ª ESTAÇÃO

Jesus é condenado a morte.

Na manhã em que foste condenado, eu mal podia acreditar no que via, Jesus de Nazaré, aquele que tinha o Pai tanto amado, que o havia anunciado, estivesse ali sem forças, como um sentenciado. Jesus que curava os cegos, Jesus que ressuscitava os mortos, Jesus que pregava com autoridade para as multidões, que chamava os fariseus de sepulcros caiados... era irreconhecível, agora diante da multidão, tão desfigurado, depauperado, estava. Todavia, ainda estava forte em nossa lembrança a ceia da última Páscoa apenas há um dia. O que acontecia? Quem entendia? Contigo tínhamos participado da mesma ceia. Fato marcante, aquele; forte como sangue que corre nas veias. O teu corpo e sangue como disseste, com cada um de nós dividiste. Ali fizeste o que um dia, em Cafarnaum disseste que farias. Teu corpo e sangue por alimento, tu nos deste, ali, como disseste que darias!

Todavia a cena da prisão e dos açoites que, contra ti seguiram-se, quebravam-nos as forças e faziam morrer tantos planos que, ao longo de todos aqueles anos, em ti havíamos depositado. Por razões de todo não reveladas, em noite já avançada, um dos nossos te havia traído; estavas entregue, não reagias. Eu... de longe, te acompanhava, sentia-me traído. Tu que, antes, pelas multidões era procurado, agora prisioneiro de Pilatos para Herodes e, novamente, de volta, para Pilatos te mandavam. Eu te seguia à distância, envergonhado. A multidão se agitava. Pensei comigo: há uma esperança. O povo que bem o conhecia, aqueles que o acompanhavam, os que presenciaram seus sinais... ah, isso será uma força; com certeza vão libertá-lo - pensei - Todavia, nada; aliás o contrário disso é o que se dava...

Estávamos todos arrasados, todos decepcionados. Tua roupa, agora, trazia marcas de sangue; por cima, puseram algo vermelho, um manto. Na cabeça uma coroa de espinhos. Em teu rosto batiam com uma cana e diziam: salve rei dos judeus. Estavas entregue. Com certeza irias morrer. Desse mistério que te envolvia eu nada entendia e trazia comigo, além disso, a enorme culpa de ter te abandonado, após 3 anos, dia e noite, noite e dia, de convívio contigo. O teu olhar parecia que nos sondava, que nos procurava; eu de ti me escondia. Via-se tua mãe ali junto e aquele a quem tu amavas, João, que na última ceia sobre teu peito se recostara. Aquele que te perguntou: quem te trairia? Quem sabia de quem? Todos nós te traímos. Todos nos acovardamos. Quem era quem naquela agonia? Quem de nós, inteiramente, te compreendia? Disseste que no alimento que nos davas vida havia; disseste que quem o comesse não morreria. Mas tu era o alimento. Por que morrias? Deste prova de amor e fidelidade ao Pai a quem tanto amaste. Todavia, eu não compreendia; por que o Pai te entregava? E com certeza fiel ao Pai morrerias.

Por nós tu te entregavas. Isto eu sentia. E como por ti eu sofria. Baixinho, eu disse: Jesus de Nazaré, tem piedade de mim. Como podes ser tu quem és e continuar eu a ser assim? Jesus de Nazaré, santo filho de Maria, livra-me da vergonha de te ter negado, dá-me a alegria de ser, entre os teus, contado, não me esqueças nenhum dia. Jesus de Nazaré, filho do carpinteiro José, Jesus ensanguentado, Jesus cambaleante, Jesus entregue às turbas uivantes... Jesus lembra-te de mim.

Jesus é condenado à morte. Permite-me, oh Pai santo, compreender a tua vontade, pois tu és envolvido em mistério. És único em teu jeito de ser; inteiramente livre em teu agir. Somente o Filho deixou-nos perceber como és, como foste, como tens sido, como serás sempre, como estás sendo para nós em nossos dias. Só o Filho que viu o Pai poderia revelá-lo para nós um dia.

Jesus é condenado. Pilatos o entregou para ser crucificado. Jesus, agora, é entregue, como na noite anterior dissera: meu corpo por vós é dado. Jesus ferido de espinhos, o sangue derramado, como dissera: O meu sangue será a Nova Aliança, derramado por vós e por todos para o perdão dos pecados.

Impressionavam-me os golpes, aqueles que recebias; os impropérios, as calúnias, as mentiras... e, como um cordeiro levado ao matadouro tosquiado, a tua boca não abrias; oferecia-te em sacrifício, o único perfeito. E disseste que, depois de tudo, ainda voltarias e, enquanto não voltavas, disseste que fizéssemos em tua memória, o mesmo que fizeste na última refeição.

Jesus de Nazaré, ouso te pedir: tem piedade de mim. Dá-me sempre desse pão, dá-me sempre deste alimento. Considerando o meu limite, em pé, sozinho, não me sustento. Livra-me das ciladas do mal, livra-me da ausência de ti, o maior tormento; livra-me de negar-te afinal, porque não teria cabimento.

Na quinta feira, tu nos deste a ti próprio por alimento. A última Páscoa tua conosco, aquela pela qual tanto esperavas, nenhum de nós saberia que tão cedo se daria. Ver-te, agora, condenado à morte, tratado como malfeitor, causava-me constrangimento, dor. À mesa, na noite anterior, como um escravo, lavando-nos os pés, tu nos serviste. E disseste: Fazei o mesmo que eu fiz

Jesus é condenado à morte. Tendo amado os seus, que estavam no mundo, amou-os até o fim.

Pressentindo qual seria o fim, sai às pressas dali.

Padre Airton Freire

Extraído do livro:Marcas da Paixão de Airton Freire

Fonte:http://www.facebook.com/FundacaoTerra

Um comentário:

  1. Bela reflexão sobre a paixão! Texto merece ser lido durante toda essa semana! Parabéns por ampliar a divulgação.
    Renato

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