31 de dez. de 2023

Feliz 2024! com poesia: Ferreira Gullar, Drummond, Pessoa

 



No breve número de doze meses
O ano passa, e breves são os anos,
Poucos a vida dura.
Que são doze ou sessenta na floresta
Dos números, e quanto pouco falta
Para o fim do futuro!
Dois terços já, tão rápido, do curso
Que me é imposto correr descendo, passo.
Apresso, e breve acabo.
Dado em declive deixo, e invicto apresso
O moribundo passo.
(Poema "Doze Meses", de Fernando Pessoa, no livro "Poemas Completos de Ricardo Reis". (Ed. Ática; 1.ª edição [1946])

26 de nov. de 2023

Elis canta "Maria do Maranhão" (Samba, Eu Canto Assim) - 1965

Música:Maria do Maranhão
Compositor: Carlos Lyra / Nelson Lins de Barros
Canta: Elis Regina
LP: Samba eu canto assim

Maria pobre Maria
Maria do Maranhão
Que vive por onde anda
E anda de pé no chão.

Maria desceu a estrada
Atravessou o país
Procurava muito pouco
Muito pouco ser feliz

Nem feliz queria ser
Que feliz não pode ser
Quem anda pelas estradas
Atravessando o país

Maria pobre Maria
Maria do Maranhão
Que vive por onde anda
E anda de pé no chão

Maria seguiu a estrada
A estrada de uma estrela
Maria não viu a estrela
Maria é só na estrada

Mas muita gente seguiu
A estrela que ela não viu
E vai dizer pra Maria
Que tudo tem solução

Até mesmo pra Maria
Maria do Maranhão
Que vive por onde anda
E anda de pé no chão

5 de mai. de 2023

Lei reconhece Escolas de Samba como manifestação da cultura nacional

Escola de Samba Marambaia, de São Luís/MA - desfile de 2023 (foto: reprodução/internet)

O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, sancionou a Lei 14.567, de 2023, que reconhece as escolas de samba como manifestação da cultura nacional. A norma foi publicada no Diário Oficial da União desta sexta-feira (05/05/2023).

A lei reconhece desfiles, música, práticas e tradições das escolas de samba como manifestação da cultura nacional. De acordo com o texto, é papel do poder público garantir a livre atividade das escolas de samba e a realização dos desfiles carnavalescos. A norma é resultado do projeto de lei (PL) 256/2019, da da deputada Maria do Rosário (PT-RS), aprovado em abril pelo Senado. A proposta foi relatada pelo senador Paulo Paim (PT-RS).

Ao relatar o projeto, Paulo Paim disse, na ocasião da aprovação na Comissão de Educação, Cultura e Esporte (CE), que não há dúvidas de que as escolas de samba são manifestações de indiscutível importância cultural. Ele ressaltou ainda a efeito dos desfiles das escolas de samba para a economia, com os lucros que geram no Carnaval.

— Como bem destaca a autora desse projeto, o Carnaval é um dos principais elementos que vêm à tona quando se indaga acerca dos símbolos constituintes de nossa cultura: os símbolos de 'brasilidade'. As escolas de samba, nesse contexto, e os seus elementos  — música, samba, dança, coreografias, desfiles, fantasias e tradição — são componentes imprescindíveis e indissociáveis do que hoje se conhece como Carnaval brasileiro. As escolas de samba surgiram na primeira metade do século passado, na forma de agremiações ou associações culturais. Trata-se de manifestações genuinamente nacionais, fruto da releitura das festas carnavalescas de origem europeia, com a fusão de elementos tropicais, africanos e ameríndios, entre outras manifestações — afirmou Paim. (Fonte: Agência Senado)

31 de dez. de 2022

Feliz 2023 com Saúde! - Rita Lee "Saúde" Multishow Ao Vivo

"Me cansei de lero-lero
Dá licença, mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar opiniões
De como ter um mundo melhor"


Saúde - Rita Lee - Roberto de Carvalho

Me cansei de lero-lero
Dá licença, mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde
Me cansei de escutar opiniões
De como ter um mundo melhor

Mas ninguém sai de cima, nesse chove-não-molha
Eu sei que agora eu vou é cuidar mais de mim

Como vai? Tudo bem
Apesar, contudo, todavia, mas, porém
As águas vão rolar, não vou chorar
Se por acaso morrer do coração
É sinal que amei demais

Mas enquanto estou viva e cheia de graça
Talvez ainda faça um monte de gente feliz

Como vai? Tudo bem
Apesar, contudo, todavia, mas, porém
As águas vão rolar, não vou chorar, não!
Se por acaso morrer do coração
É sinal que amei demais

Mas enquanto estou viva e cheia de graça
Talvez ainda faça um monte de gente feliz

Feliz 2023!




 

Feliz 2023!

 

Feliz 2023!

 


24 de dez. de 2022

"Natividade" da Abadia de Keur Moussa, Senegal

 

"Natividade" afresco do presépio projetado e pintado em 1963 por Dom Georges Saget, monge da Abadia de Keur Moussa/Senegal, uma irmandade de expatriados franceses e senegaleses. O afresco está no altar-mor da igreja e faz parte de um Retábulo(abaixo) que tem ainda: Anunciação, Visitação; Visita dos Magos, Natividade, Apresentação no Templo, Fuga para o Egito; Jesus no Templo, Bodas em Caná, Jesus Encontra Sua Mãe a Caminho do Calvário, Deposição, Sepultura Vazia; Ascensão, Assunção de Maria, Pentecostes. 
Fonte:https://artandtheology.org/2017/11/07/music-making-at-keur-moussa-abbey-senegal/

Noite Feliz em ritmo de reggae (George Gomes - Clipe Oficial)

23 de dez. de 2022

Tianatácia - Jesus Cristinho (Projeto Ensaio Aberto - Teatro Guarani, B...

Jesus Cristinho
banda: Tianastácia

Jesus Cristinho alumia nóis
É tanto sapo que a garganta dói
O mesmo erro a mesma inércia o mesmo tédio
Será alma doutro mundo que encostou ne nós
Eu tenho andado meio tão sem força
É resultado de tanto desgosto
No meu barraco nem reboco na parede
Mas a base é muito forte feito fundo posso

Brasileirooooooo
Brasileira, não so só um

Vejo mudanças no ar
Nesse país lindo de samba e sol
Basta uma muda pra poder vingar
A intenção do nosso povo é muito boa
Precisamo é da semente prá pode plantar
Jesus Cristinho daí-nos sua benção
Que o caminho desse nosso andar
Dai-nos força pra seguir viagem
uma estrela que ilumine
o rumo que eu tomar

Brasileirooooooo
Brasileira, não so só um

13 de fev. de 2022

Parlatório: Carnaval, sem carnaval!

 Carnaval, sem carnaval!

O carnaval atravessa os séculos incólume. Com ou sem pandemia, crise ou desvios financeiros ele continua firme forte e sassariqueiro no Brasil inteiro. Em todos os cantos. Afinal é a festança-símbolo deste país-continente. A danada da folia segue seu destino de colocar o rei na pele de mendigo e o mendigo nas vestes de um rei. Todo mundo dançando conforme a musica. Qualquer que seja a música.

O bom do nosso carnaval é que ele se encaixa bem justo no caráter do brasileiro. Cheio de galhofas, amante das farofas, pronto para os deboches, e se duvidar, ainda pode saborear um brioche. 

Em nossa ilha-Capital o alcaide já firmou a pena: nada de desfiles, de passarela, e nem mesmo pra ser visto da janela. A pandemia, assim como o espírito zombeteiro do Fofão, não acabou.

Então, para glória de Dionísio (o Deus, claro!) a folia pode até ser magrela, mas quem duvida que ela vai dar seus esbregues? Nas perifas, nas praias ou nas chiqueiras salas dos condomínios dos barões acasalados. Aliás o carnaval desta nossa esburacada ilha-Capital dá as caras desde o 26 de dezembro, principalmente pelas ruas e ladeiras do bairro carnavalescamente divino: a Madre Deus.

E quem pensa que carnaval é ofensa, blasfêmia das fêmeas, dos machos e todes mais, não custa nada lembrar que o carnaval nunca foi, nem nunca será um festival de profanidades, simplesmente porque nasceu de um ritual divino, o rito está na gênese da festa. 

Mas, para este ano, ainda pandêmico, deve-se lembrar ainda mais das máscaras, e não só as carnavalescas. Destas é bom que seja dito que, nos últimos anos, a principal e mais representativa máscara destes nossos ilhéus tem sido escanteada: O Fofão!

Sim, o Fofão, nosso personagem-símbolo já está inaugurando seu nome na lista dos animais em processo de extinção. Por que isso? Porque nesta ilhota magnética e carnavalesca, o colorido e espalhafatoso personagem começa a saltitar pelas ruelas e becos desde o dezembro. E isso, já não tem acontecido mais.

Até o momento, não tenho visto nenhum artista, ou um pequeno grupo destes, aqui de nossa pequenópoles ligar microfones virtuais bradando: Cadê o Fofão? (LR)

Publicação simultânea com o portal Parada do Saber:

 


Eu, etiqueta – Carlos Drummond de Andrade

 

Em minha calça está grudado um nome

que não é meu de batismo ou de cartório,

um nome… estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

que jamais pus na boca, nesta vida.

Em minha camiseta, a marca de cigarro

que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produto

que nunca experimentei

mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

de alguma coisa não provada

por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,

minha gravata e cinto e escova e pente,

meu copo, minha xícara,

minha toalha de banho e sabonete,

meu isso, meu aquilo,

desde a cabeça ao bico dos sapatos,

são mensagens,

letras falantes,

gritos visuais,

ordens de uso, abuso, reincidência,

costume, hábito, premência,

indispensabilidade,

e fazem de mim homem-anúncio itinerante,

escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É doce estar na moda, ainda que a moda

seja negar minha identidade,

trocá-la por mil, açambarcando

todas as marcas registradas,

todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

eu que antes era e me sabia

tão diverso de outros, tão mim-mesmo,

ser pensante, sentinte e solidário

com outros seres diversos e conscientes

de sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio,

ora vulgar ora bizarro,

em língua nacional ou em qualquer língua

(qualquer, principalmente).

E nisto me comprazo, tiro glória

de minha anulação.

Não sou – vê lá – anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

para anunciar, para vender

em bares festas praias pérgulas piscinas,

e bem à vista exibo esta etiqueta

global no corpo que desiste

de ser veste e sandália de uma essência

tão viva, independente,

que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

meu gosto e capacidade de escolher,

minhas idiossincrasias tão pessoais,

tão minhas que no rosto se espelhavam,

e cada gesto, cada olhar,

cada vinco da roupa

resumia uma estética?

Hoje sou costurado, sou tecido,

sou gravado de forma universal,

saio da estamparia, não de casa,

da vitrina me tiram, recolocam,

objeto pulsante mas objeto

que se oferece como signo de outros

objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

de ser não eu, mas artigo industrial,

peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é coisa.

Eu sou a coisa, coisamente. 

Carlos Drummond de Andrade ANDRADE, C. D. Obra poética, Volumes 4-6. Lisboa: Publicações Europa-América, 1989.

Fonte: https://www.pensador.com/frase/MjAyODM0/