2 de set. de 2013

São Luís401-anos - PALMÁTRIA - Bandeira Tribuzi

São Luís, ilha-Capital 401 anos!

Charge: Wilson Dias (Caju)

Nasceu em 2 de fevereiro de 1927 o poeta e jornalista Bandeira Tribuzi. Homem dado a atividades múltiplas, destacou-se como economista e escritor, tendo tido também um papel de destaque como jornalista.
Bandeira Tribuzi inaugurou-se com o suplemento literário Malazarte, 1947/48, quando lança a revista Ilha.
Entre 1956/59, dedicou-se ao jornalismo, no Jornal do Dia, no qual também trabalha de 1964/73. De 1973 até sua morte estará no jornal, do qual foi fundador, O Estado do Maranhão. Tribuzi trabalhou no Tribuna da Imprensa, de 1959 a 60, no Rio de Janeiro. Os artigos jornalísticos que mais marcaram época foram os que escreveu para o suplemento Sete Dias, de O Estado do Maranhão, em que tornou-se célebre pelas crônicas humorísticas e satíricas, Palmátria. O suplemento foi criado por ele e pelo jornalista e poeta Pergentino Hollanda.
Ressalte-se que, após o golpe militar de 1964, enquanto esteve preso no 24º BC, colaborou no Correio do Nordeste. Autor de vários livros de poesia, Tribuzi deixou também 43 composições musicais, com letras e músicas suas. É o autor do hino oficial de São Luís, Louvação a São Luís.
Quanto às crônicas Palmátria, de caráter político, se constituem em 38, publicadas em 75, 76 e 77, respectivamente. Tribuzi morreu no dia 8 de setembro de 1977, data em que São Luís completava mais um ano de sua fundação. O poeta e jornalista morreu aos 50 anos.

PALMÁTRIA
Está na crônica de Palmátria
Bandeira Tribuzi
(O Estado do Maranhão, 1975)
1
Certo tempo o Jerarca OC, através de uma confusa sucessão, assumiu o Poder. Não era o preferido de ninguém, mas admitiu-se na hora da escolha que poderia servir como espécie de pausa para meditação. Se não era ótimo para ninguém, também para ninguém era péssimo e, assim, poderia ir ficando no seu meio caminho até que o tempo se concluísse e fosse possível fazer outro tipo de escolha.
Está na crônica de Palmátria o comentário: “quantas vezes os amigos e próximos de um jerarca são piores inimigos!” Foi o que foi. Áulicos e subáulicos e sobretudo JER, o mais próximo, se deixaram envenenar pela ilusória onipotência do Poder. Impregnaram-se da filosofia de que “o poder pode tudo”. E se desmandaram a praticar inúmeros desmandos e a influir em OC para que os praticasse.
JER passou a considerar-se um superiluminado e predestinado; uma espécie de Rasputim tropical que todos os dias (está nas crônicas) amanhecia perguntando ao espelho: “Dize-me, espelho meu, se há em Palmátria alguém mais talentoso que eu?”. E assim, sob essas influência, o Jerarca OC (antes reconhecidamente um homem discreto, mas sensato e morigerado) foi resvalando para a pratica ou a ordenação de quantas ilegalidades ou abusos ou arbítrios antes condenara.
Está na crônica de Palmátria que a partir de um certo tempo, OC perseguiu, demitiu, abriu a cornucópia das nomeações de favorecimento, aliciou, ameaçou, puniu exorbitantemente pelo físico, consentiu falsificação de documentos: enfim praticou tudo aquilo que sempre condenara porque se deixou contaminar da filosofia de que “o Poder pode tudo” ou “jerarca é dono de Palmátria”
Avança a crônica desses tempos que houve muitos desgostos e sofrimento injusto e amargura de justos e alegria de insensato e abusos e ilegalidades. E até que, em alguns momentos, pôde parecer que desmoronavam os princípios e prevaleciam a prepotência e o arbítrio. Que a gargalhada de JER não iria ter fim…
Está na crônica de Palmátria que, porém, assim não foi ao final. Que a firmeza dos que defendiam a lei e a dignidade no trato da coisa pública acabaram predominando.
Eo riso insensato de JER, o perturbado espírito abusivo de OC, e a farra dos áulicos e subáulicos perdeu a razão de ser. O Palácio Tropical que antes era uma festa virou um velório. Nem os amigos e próximos apareciam mais para a louva-minhação pois, antes que fosse definitivamente tarde, tinham ido cantar em outra freguesia.
E, neste ponto, infelizmente, a crônica de Palmátria se torna ilegível pela ação do tempo e da má conservação.
Mas continuam alguns capítulos e anos após. E como o sol da justiça e da paz e do Progresso – segundo na crônica está registrado – voltou a brilhar, é fácil compreender o que aconteceu…
2
Em Palmátria, no ciclo nefasto do Jerarca JOROC, em que tantas coisas negativas aconteceram, a opinião geral era, porém, que não o próprio Jerarca mas seu Áulico-Mor RIAR era o grande responsável pelo muito quanto de negativo ia ocorrendo. E alguns chegavam mesmo a afirmar, sem isentar JOROC de suas culpas e até mesmo reconhecendo-as, que muito do errado, que ocorria em Palmátria naqueles idos, mais se devia à desastrada intromissão do Áulico-Mor e que em muitos casos realmente JOROC fora tomado de surpresa ao conhecer do que estava sendo cometido.
RIAR, de saída, cometido logo um tremendo equívoco, não acreditava nas Leis e em seu Poder. Para ele o sistema, posto que legalmente não o fosse, era praticamente uma monarquia estabelecida por direito divino: JOROC fora escolhido porque Deus estava querendo punir os palmátridas. E tendo sido escolhido dessa forma, o que JOROC e seus Áulicos ou Iluminados pensassem ou perpetrassem, era o que convinha a Palmátria. RIAR considerava-se, em realidade, não apenas um super-dotado, mas um ser favorecido com o dom da infalibilidade. E entendia que o exercício do poder público concedia ao Jerarca e aos seus a propriedade de palmátria, com a qual poderiam fazer o que bem lhes entendesse pois, só pelo fato de o entenderem, seria logo bem entendido.
Àluz desta inspiração que RIAR foi cometendo ou inspirando o cometimento de toda uma imensa série de abusos, ilegalidades, prepotências, inversões de valores, desacatos. E dizem que ainda dormia insatisfeito porque, no fundo, achava que Deus cometera um equívoco no jogo de azar de suas escolhas: ele, RIAR, estava muito mais naturalmente dotado para ser o Jerarca do que o próprio JOROC, e não RIAR, que ocupava o cargo de Jerarca. E a JOROC cabia de qualquer forma a decisão, embora fizesse pouco uso dela.
De tanto abusar de sua situação, RIAR conseguiu cair na ojeriza e no ridículo geral. Embora, é claro, tenha se beneficiado das circunstâncias abundantemente, a verdade é que a ojeriza e o ridículo talvez tenham sido seu maior prêmio. Como acontece com tudo no mundo (e isto está na Crônica de Palmátria) também um dia acabou (e ainda não diremos como...) o domínio de JOROC. E por óbvio, seu Áulico-Mor entrou em declínio. Como é de rotina em tais casos, sua porta ficou vazia de aduladores, nunca mais recebeu presentes vultosos, nunca mais pôde... RIAR sofreu a nova condição desastrosamente. De amador de bebidas finas decaiu ao ponto de não conseguir mais ficar desperto sem se encontrar etilizado. E dizia coisas vagas e sem sentido. Relutaca em aceitar sua nova situação. Envelheceu precocemente e amargamente.
Disto há notícias na Crônica de Palmátria até bastante minuciosas. E o mais espantoso (pois pensávamos que a expressão era própria de nossa época) e que, nessa crônica em capítulo que reporta à decadência de JOROC e RIAR, encontramos referida a ambos essa popular expressão de nossos dias:
“Quem nunca comeu mel quando come se lambuza.”

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