20 de jan. de 2012

Artigo sobre Joãozinho Trinta

Joãosinho Trinta comemora a vitória em 2006 pela Unidos de Vila Isabel
(Foto: Salvador Scofano/Futura Press)






30 de setembro de 2010 - A então candidata à Presidência da República Dilma Rousseff cumprimentou o carnavalesco Joãozinho Trinta, ao deixar as instalações do Projac, na zona oeste do Rio de Janeiro, após debate na TV Globo (foto:Wilton Junior/AE)






JOÃOSINHO É 30. O RESTO É 29

Rivanio Almeida Santos*


No último dia 17 de dezembro o mundo perdeu uma das mentes mais brilhantes, ousadas e geniais que já existiram. Morreu Joãosinho Trinta, o homem que revolucionou o carnaval do Rio de Janeiro e o fez de “modelo padrão” para o carnaval de passarela de todo o Brasil, além dos países onde há carnaval. E ainda levou nossa festa para os mais nobres e sofisticados salões de palácios pelo mundo a fora.


Não quero aqui relembrar os diversos títulos que João deu às escolas como Salgueiro, Beija-Flor e Viradouro, que lhes deram os status de grandes escolas. Também não quero ficar lembrando os seus feitos ousados em todas estas e na Grande Rio, onde colocou um homem a voar em plena avenida. O que pretendo é defender sua memória e louvar o orgulho que ele tinha em ser maranhense.


João passou a vida trabalhando, e não o digo no sentido figurado. Esse “pequeno” era fora do comum. Sua mente fabricava ideias, projetos. Entre estas suas ideias e projetos sempre esteve o de voltar à sua terra e dar um presente a seus conterrâneos. Isso ele já estava fazendo. Porém, enquanto esse tempo não chegava o ousado e genial Joãosinho fazia o que era possível pra divulgar o nome de seu Estado natal. E onde quer que fosse falava de sua terra, de sua gente, de sua cultura. Tanto que levou nosso Estado como tema de seus carnavais por várias vezes. Com ele o Brasil descobriu que no Maranhão não tinha somente pobreza e analfabetismo. O Maranhão tinha – e tem – gente talentosa, criativa e rica em cultura. E, onde era anunciado, sua profissão e sua origem eram citadas antes mesmo que seu nome. “Carnavalesco Maranhense Joãosinho Trinta”, assim era tratado.


Voluntária e involuntariamente fazia mídia à sua terra e para isso não ganhava nada. Inúmeras vezes, em viagens pelo Brasil, ao dizer que sou do Maranhão ouvi de volta a frase “Terra do genial Joãosinho Trinta e da Marrom”. Quanto não se gasta em mídias em revistas, TVs, jornais, outdoors etc. para divulgar São Luís e o Maranhão como destinos turísticos? O João, que era mais que maranhense, era Brasileiro, falava de sua terra sempre com orgulho. Isso não era pouco.


Poucas, ou inexistentes, são as informações obtidas por uns e outros a respeito desse mestre. Menores ainda são os interesses dessas pessoas em buscar conhecer a essência do ser desse gênio. Mas, há ainda coisa menor, o respeito e o reconhecimento que essas pessoas deveriam dar a ele e sua obra. A divulgação da terra de João, feita por ele, chegou mais longe que muitos meios de comunicações locais conseguem chegar. A ousadia de sua mente genial deu forma ao carnaval do Brasil, isso incluindo as escolas de samba locais. E ainda ousam em perguntar o que Joãosinho Trinta fez pelo Maranhão. João não fez apenas pelo Maranhão. Ele fez pelo Brasil, ele fez pelo mundo. Afinal, ele não era só mais um maranhense. Joãosinho Trinta era um carnavalesco maranhense cidadão do mundo. Isso por si só já é motivo de orgulho.


E, não bastando os questionamentos quanto aos feitos desse mestre, ainda há pessoas que se aproveitam de sua partida para tentar sujar sua imagem e sua reputação. Ação que soa desrespeitosa, leviana e cruel. Quem tinha dúvidas quanto ao seu caráter e à sua conduta pessoal e profissional por qual motivo não o procurou em vida para que o próprio pudesse responder e se defender dessas especulações? Foi medo ou vergonha? Ou simplesmente preconceito por ele ser “O Joãosinho Trinta”?


Não entendo porque o fato de um conterrâneo fazer sucesso lá fora não seja aceito por alguns. Será se estes artistas tivessem permanecido na ilha eles seriam as referências que são hoje? Já perceberam que nós ainda temos muitos e grandes talentos no Estado e que não são conhecidos pelo resto do país?


Vários maranhenses hoje são conhecidos nacional e internacionalmente pelo que fazem. Mas, isso só ocorreu pelo fato de terem ousado sair de sua terra em busca de reconhecimento por seus trabalhos. E não nasce todo dia um Gonçalves Dias, um Ferreira Gullar, um Josué Montelo, um Reinaldo Faray, um João do Vale, uma Alcione, um Zeca Baleiro, uma Rita Ribeiro, uma Ana Torres e muito menos um Joãosinho Trinta. Estes artistas não têm “culpas” – se e que alguém pode ser culpado por isso - de só se destacarem os que são geniais, os que oferecem o novo, o diferente e se arriscam nos grandes centros, como o eixo Rio-São Paulo, ou até mesmo a Europa. E Joãosinho Trinta tem menos “culpa” ainda.


Muitas pessoas que se intitulam de carnavalescos já tentaram a sorte nas escolas de samba de São Paulo e do Rio de Janeiro. Contudo, não tiveram a ajuda nem do talento e muito menos da sorte. É como o próprio João dizia: “não acredito em casualidades, mas em causalidades”.


Quem o conheceu e teve o privilégio de conviver com ele tanto no âmbito profissional quanto no pessoal, como eu e os demais componentes de sua atual equipe, sabe e pode afirmar o quão generoso ele era. E não o digo pelo fato de está ele nos seus “últimos dias de vida” ou “arruinado”, como alguns especulam. O conheci em 1997 por ocasião da Comenda Mérito dos Timbiras, dada a ele pelo Governo do Estado do Maranhão. A partir daí se fortificou uma amizade e que passou a colaboração profissional, motivo de muita honra, pois João só buscava para junto de si pessoas com trabalhos de excelência. E nem a doença o afastou de seus amigos e colaboradores e do seu trabalho. Ele sempre se mostrou generoso, sempre gostou de ser ouvido e, principalmente, de ouvir. Dizia que além de respeitoso isso fortalecia as relações e dava unidade de informações à equipe.


Exigente ele sempre foi. É fato. Quem não o é quando se quer defender um trabalho que leva sua assinatura? E, no caso, um trabalho com a “grife” Joãosinho Trinta deve ser muito zelado pela qualidade dos resultados. Afinal de contas esse nome não se fez da noite para o dia. Ele não foi Doutor de formação, porém, foi um mestre no trabalho que fez e sua obra serviu, serve e servirá como objeto de estudos e teses para muitos doutores.


Polêmico João sempre foi. Sem dúvida alguma. Mexer com o senso comum, mudar as ordens das coisas sempre causa certos desconfortos iniciais. Mostrar as coisas por diferentes ângulos, mexer com a opinião pública e fazer refletir eram algumas de suas marcas. Como ele mesmo disse certa vez: “Só os contrastes causam impacto e são capazes de mostrar a realidade brasileira”. Isso incomoda, causa inveja e especulações. Citar sua obra é obrigação para quem o menciona, pois ninguém pode lhe tirar seus méritos. Agora usar especulações para agredir e diminuir a imagem de quem colaborou muito à cultura nacional é covardia. E quando a pessoa não está mais presente para se defender é desumano.


Que fique registrado que João Clemente Jorge Trinta, o Genial Carnavalesco Maranhense Joãosinho Trinta, teve seu nome conhecido e reconhecido no Brasil e no mundo no diminutivo. Entretanto, seus feitos à história e a cultura, além do seu coração generoso, o fizeram um ser humano no aumentativo. Por fora um Joãosinho, por dentro um Joãosão. E como disse Ramilton Fernandes, vice-presidente da Beija-Flor, em 1990, “Joãosinho é 30. O resto é 29”.

(* Turismólogo e Carnavalesco)

Fonte:http://turismoecialtda.blogspot.com

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