2 de jan. de 2013

Ensinando e aprendendo




Ensinando e aprendendo: assim é a vida de um educador*
Prof. Dr. Rogério de Mesquita Teles**



Neste final de ano, tenho a honra de comemorar meu vigésimo segundo ano de magistério. Digo honra, porque sou professor por convicção, e não por ocasião. E me orgulho muito disso. Sempre gostei de dizer que acompanhar o crescimento intelectual de jovens é o que mais recompensa o verdadeiro educador.

Com muita frequência, encontro ex-alunos realizados nas mais diversas ocupações: colegas professores, técnicos em diversas áreas, advogados, médicos, juízes, promotores, enfermeiros, políticos, dentre outros. Isso reforça o que disse acima quanto ao crescimento intelectual dos jovens.

Ao longo desse tempo, dediquei-me muito a essa profissão. Foram muitos estudos, cursos, pesquisas, congressos, especializações, mestrado e até doutorado em química, dando a entender a algumas pessoas que, diante de tudo isso, tenha-se chegado ao pico, ao topo da carreira. Enganam-se essas pessoas, pois como disse João Guimarães Rosa, “mestre não é quem sempre ensina, mas quem de repente aprende”.

Somente neste ano, vigésimo segundo de minha carreira, percebi mais intensamente o significado dessa frase, com a oportunidade de ter que ensinar Química Orgânica a uma aluna surda, no IFMA, Campus São Luís-Monte Castelo.

Sem que ela nem a turma percebessem, mudei sutilmente meu estilo de aula, sendo mais atencioso, mais cuidadoso com o aprendizado desses alunos. Diria até que compartilhei, ainda mais, a responsabilidade do compromisso de aprendizado dos alunos no que tange às funções orgânicas e isomeria, assuntos completamente inéditos para eles, em especial para Juliana, surda em alto grau, mas muito esforçada e comprometida com seus estudos.

O mesmo rigor imprimido à turma também o foi para Juliana, inclusive no momento das tradicionais, mas necessárias, provas escritas, haja vista que se trata de um curso técnico em Química integrado ao ensino médio, sendo a compreensão desses conteúdos plenamente necessária.

Mesmo em avaliações como essas, a aluna Juliana se saiu bem, e confesso: vê-la recebendo sua avaliação e percebendo emocionada que não havia ficado de recuperação emocionou-me também, deixando mais claro ainda que contribuir para o crescimento intelectual de meus alunos é, de fato, minha maior recompensa como educador.

Um dos instrumentos avaliativos usado nessa turma é um trabalho que está sendo desenvolvido ao longo do semestre, em que o objetivo é desenvolver algumas terminologias químicas em Libras, como forma de deixar um legado a esses alunos tão especiais no entendimento de uma ciência complexa, como é o caso da Química. A turma está muito empolgada e empenhada; eu também.

Dessa forma, acredito que tenho respaldo para, humildemente, endossar a famosa frase de Guimarães Rosa. Além de declarar que ainda há muito o que aprender a qualquer educador, por mais experiente ou capacitado que seja. Que venham os próximos anos com seus desafios.


*Publicado em 31/12/12, no jornal O estado do Maranhão
**Professor do IFMA-Campus Monte Castelo


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