24 de abr. de 2012

Difícil acreditar no assassinato de Décio. 

Vou, porém, cobrar a punição dos culpados
(publicado no blog do jornalista Roberto Kenard)

Histórico

Desde 2002, com a chegada do PT ao Governo Federal, faz-se campanha sistemática para desacreditar a imprensa. O PT ainda não desistiu de amordaçar a imprensa independente.

No Maranhão, Estado onde a pobreza e a miséria têm níveis alarmantes, a imprensa independente é um milagre. Toda e qualquer iniciativa privada é dependente do Estado ou dos municípios. Forma absoluta de controle da livre expressão.

Em fins dos anos 90, com a CPI do crime organizado, que percorreu o país e mandou para a cadeia quadrilhas inteiras, no Maranhão respirou-se aliviado: o crime encomendado parecia chegar ao fim no Estado.

Mera ilusão. Basta buscar as páginas de polícia dos jornais para saber que o crime está de volta com força redobrada. Os homicídios levaram São Luís, a Capital, a entrar na lista das cidades mais violentas do mundo, conforme o leitor pode ler nos arquivos do blog. São Luís está entre as sete cidades mais violentas do Brasil. Não há sequer a desculpa de que o Estado desenvolveu-se e com o desenvolvimento veio a violência. Estamos mais pobres e mais violentos. Mais grave: o Estado não tem um único programa para pelo menos diminuir a violência e o crime.

Décio Sá – o jornalista

Não costumo escrever sob estado de choque. A mim é fundamental a lucidez. Além do mais, tenho verdadeira ojeriza à pieguice. Escrevo ainda sob o impacto brutal do assassinato do jornalista Décio Sá, com quem tinha relação de amizade.

Décio Sá, como sempre disse a ele (e ele sentia um orgulho danado quando me ouvia dizer isso), era o repórter mais brilhante, não de sua geração, mas do jornalismo maranhense. Décio respirava jornalismo, como se na vida não houvesse outras coisas. Quero crer que férias para ele eram algo desalentador, tal o seu apego à notícia.

Isso não me impedia de discordar dele. Achava-o um repórter por excelência, aquele que vive a notícia 24 horas. Já escrevi isso aqui. Como escrevi que não tinha um grande texto. No jornalismo há essa: você pode ser um ótimo repórter e não ser, ao mesmo tempo, um grande texto.

Quando proprietário do jornal Diário da Manhã, criei a segunda-feira para jornalistas se encontrarem no Bar do Léo. Décio não perdia uma segunda-feira. Ali lhe falei: “Você era o repórter com quem eu gostaria de contar no Diário. Repórter precisa ter fome de notícia, não ter hora para bater ponto. ” Ele ria vaidoso, com aquele jeito meio de menino.

Desde que foi trabalhar em O Estado do Maranhão, jornal da família Sarney, vestiu a camisa dos patrões. Disse-lhe inúmeras vezes que se tratava de um equívoco. Nem governo nem oposição podem pôr cabresto no jornalista. Mas, diferente do que muita gente imagina, no dia-a-dia Décio Sá era um sujeito afável e extremamente gozador. Além de muito solidário.

O assassinato de Décio Sá é um atentado contra a liberdade de expressão. Não encontra justificativa em nenhum código da civilização. É a barbárie, onde a covardia e o desrespeito ao ser humano é a norma.

O Governo do Maranhão – não por Décio Sá ter estado atrelado ao grupo dominante – tem a obrigação de desvendar o crime e prender os culpados, esteja quem esteja envolvido no crime bárbaro. Do contrário, a segurança, item absolutamente falho, para dizer o menos, nos dias de hoje no Maranhão, terá a porteira definitivamente aberta para o pior, se é que há o pior.

Ninguém pode ser ameaçado de morte ou mesmo ser assassinado por divulgar notícias ou por expressar opinião divergente. A democracia contém a divergência. Melhor: exige a divergência. A democracia não permite o controle da informação, como deseja o PT. A democracia não aceita a imposição do silêncio, seja nas suas formas brandas, seja nas suas formas bárbaras, como no caso de Décio Sá.

Décio Sá – o amigo

Vocês jamais poderão imaginar a dor com que escrevo neste momento. Não sei lidar com perdas como essa. A estupidez, a covardia e a barbárie me deixam muito mal. Vocês podem vasculhar este blog, não encontrarão sequer notícias reproduzidas sobre o drama que abateu o amigo Flávio Dino. Quando Dino perdeu o filho da maneira mais irresponsável e estúpida, fiquei 24 horas sem postar nada.

Os mais calmos dirão que é a vida. Eu sempre direi que é a barbárie.

PS: Não tive condições de ir ao velório. Não terei condições de ir ao enterro. Adeus, meu irmão.

Fonte: http://www.robertokenard.com/

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