19 de jul. de 2012

Salve, Degas! Salve, Maiakóvski!


"Não quero ser triste 
Como o poeta que envelhece,
Lendo Maiakovski de conveniência." (Zeca Baleiro)






Em 19 de julho nasceram:


1834 - Edgar Degas, pintor impressionista francês (1834)
1893 - Vladimir Mayakovsky, poeta russo (1893)


A pequena bailarina de catorze anos, escultura forjada em bronze a partir da imagem em cera exibida na Mostra Impressionista de 1881



                          Prima Ballerina ou A primeira bailarina, cerca de 1878, Museu de Orsay





        Dançarinas atando as sapatilhas, cerca de 1893-1898, Museu de Arte de Clevland, Ohio




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Em 19 de julho de 1893 nasce Vladimir Mayakovsky, poeta russo



COMUMENTE É ASSIM 


Cada um ao nascer 
traz sua dose de amor, 
mas os empregos, 
o dinheiro, 
tudo isso, 
nos resseca o solo do coração. 
Sobre o coração levamos o corpo, 
sobre o corpo a camisa, 
mas isto é pouco. 
Alguém 
imbecilmente 
inventou os punhos 
e sobre os peitos 
fez correr o amido de engomar. Quando velhos se arrependem. 
A mulher se pinta. 
O homem faz ginástica 
pelo sistema Muller. 
Mas é tarde. 
A pele enche-se de rugas. 
O amor floresce, 
floresce, 
e depois desfolha.           (Vladimir Maiakóvski)


Brilhar para sempre,
brilhar como um farol,
brilhar com brilho eterno,
gente é para brilhar,
que tudo mais vá para o inferno,
este é o meu slogan
e o do sol.              (Vladimir Maiakóvski)




Eu (De “V Internacional”)


Eu
à poesia
só permito uma forma:
concisão,
precisão das fórmulas
matemáticas.
Às parlengas poéticas estou acostumado,
eu ainda falo versos e não fatos.
Porém
se eu falo
"A"
este "a"
é uma trombeta-alarma para a Humanidade.
Se eu falo
"B"
é uma nova bomba na batalha do homem. (Vladimir Maiakóvski - tradução:  Augusto de Campos)






Dedução


Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.     (Vladimir Maiakóvski)




Uma nuvem de calças (2)


Glorifica-me!
Os grandes não se comparam a mim.
Em cada coisa que eles conseguiram
Eu carimbo um nada


Eu nunca quero
ler nada.
Livros?
O que são livros!


Antes eu acreditava
que os livros eram feitos assim:
um poeta vinha,
abria levemente os lábios,
e disparava louco numa canção.
Por favor!
Mas parece,
que antes de se lançarem numa canção,
os poetas têm de andar por dias com os pés em calos,
e o peixe lento da imaginação,
lateja ligeiro no bater do coração.
E enquanto, com a filigrana da rima, eles cozem uma sopa
de amor e rouxinóis,
a estrada sem língua apenas sucumbe
por não ter nada a gritar ou a dizer. (Vladimir Maiakovsky)





O Amor

Um dia, quem sabe, 
ela, que também gostava de bichos, 
apareça 
        numa alameda do zoo, 
sorridente, 
     tal como agora está 
         no retrato sobre a mesa,. 
Ela é tão bela, 
       que, por certo, hão de ressuscitá-la. 
Vosso Trigésimo Século 
ultrapassará  o exame 
de mil nadas, 
  que dilaceravam o coração. 
Então, 
       de todo amor não terminado 
seremos pagos 
      em enumeráveis noites de estrelas. 
Ressuscita-me, 
     nem que seja só porque te esperava 
como um poeta,
repelindo o absurdo quotidiano! 
Ressuscita-me, 
     nem que seja só por isso! 
Ressuscita-me! 
    Quero viver até o fim o que me cabe! 
Para que o amor não seja mais escravo 
de casamentos, 
      concupiscência, 
        salários. 
Para que, maldizendo os leitos, 
   saltando dos coxins, 
o amor se vá pelo universo inteiro. 
Para que o dia, 
    que o sofrimento degrada, 
não vos seja chorado, mendigado. 
E que, ao primeiro apelo:
- Camaradas!
Atenta se volte a terra inteira. 
Para viver 
      livre dos nichos das casa. 
Para que 
     doravante 
   a família 
       seja 
o pai, 
      pelo menos o Universo; 
a mãe, 
      pelo menos a Terra.   (Vladimir Maiakovsky)

Vladimir Maiakóvski é o maior poeta russo moderno, aquele que mais completamente expressou, nas décadas em torno da Revolução de Outubro, os novos e contraditórios conteúdos do tempo e as novas formas que estes demandavam. Maiakóvski deixa descortinar em sua poesia um roteiro coerente, dos primeiros poemas, nitidamente de pesquisa, aos últimos, de largo hausto, mas sempre marcados pela invenção. "Sem forma revolucionária não há arte revolucionária", era o seu lema, e nesse sentido Maiakóvski é um dos raros   poetas que conseguiram realizar poesia participante sem abdicar do espírito criativo. (comentário de Haroldo de Campos, publicado no livro  "Maiakóvski - Poemas" Ed. Perspectiva  - 1982)




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