Dia da Poesia*
"...Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda..."
(“Romanceiro da Inconfidência” – Cecília Meireles)
Hoje, como em todos em todos os
calendários deveria ser, é o Dia da Poesia. E, se nada como um dia após o
outro, a vida torna-se assim um somatório de versos, em si poemas, que dela a
essência se tornam e, por ela nesse fim se converte.
Mas nunca é demais, no íntimo que nos
anima, lembrar-se “A poesia quando chega não respeita nada...” assim diz o
bem querido Ferreira Gullar nos propondo nunca esquecer de uma subversiva, e
nunca desprezada, poesia. É esta, pois que nos deve alcançar neste 14 de março
e em todos, todos os fatigados e mesmo doces, dias.
Porque com poemas devemos nutrir nossa
existência, com mais ou menos tempo para dilemas azáfamas; por tantos ou tidos
desvios econômicos, políticos ou religiosos a que se nos impomos. Porque é a
poesia que passeia por nossas veias, mesmo que não a saibamos presente. Apesar
de isso, ela aí esta. A nos ver por sobre nuvens e flores, a essência do humano
que é feito em nós.
Uma poesia vigilante, certeira, como
que arremessa-se por dentre em nós, como sempre nos acordam Gullar, Neruda,
Safo, Lorca, e tantos mais... e são tantos os versos fazidos de passos em nosso
existência terrena. É de gestos, concretos, ações empreendidas no cotidiano que
escrevemos estes nossos poemas. Lançados em tiro certo na direção de amigos,
colegas, passantes. Sim, pois de gestos-poemas é que construímos nossa
trajetória humana. O livre-arbítrio nos permite sabê-los sendo, ou querer
deseja-los e, por isso, fazê-los.
A cada instante, cada gesto, pequenos,
mínimos movimentos na direção do outro, é que podemos construir poesia.
Gentilezas ou rudezas darão a coloração desse poema-maior. Solidariedade,
beleza, generosidade, mais que palavras-gestos são alimento a nutrir a
poesia-mãe que é a vida.
Adelia, Joyce, Coralina; Orides, Lucia
Santos, ou Souzandrade, bem importa quem são e o que escreveram e escrevem com
mãos e tinta, com olhares e passos, em acenos, em cena...
Pessoa(s), Cecília, Bandeira, Quintana e
a beleza de seus versos, de seus passos, de seus casos. Uma beleza que não
encerra em si apolíneos espelhos de Narciso, mas que sobrelevam uma vida feita
de sonhos vividos, no compasso caudaloso que arrasta os dias por entre as
gentes que se nos entrelaçam em fatos e cestos.
É dessa poesia, a vivida e não a
querida; a sentida e não uma imaginada, é que falamos aos ventos. Uma poesia
que nos faz crescer na estrepitosa construção do humano. Daquele que se
reconhece no outro, se enternece e se almeja. Do que se pretende, e se faz
daquilo mais belo que em nós existe: a humanidade, que de tão sonhada, se faz construir
na dignidade dos gestos que rodeiam os dias. De uns e de outros e, por fim, de todos nós.
"Não me importo com as rimas. Raras vezes
Há duas árvores iguais, uma ao lado da outra.
Penso e escrevo como as flores têm cor
Mas com menos perfeição no meu modo de exprimir-me
Porque me falta a simplicidade divina
De ser todo só o meu exterior
Olho e comovo-me,
Comovo-me como a água corre quando o chão é
inclinado,
E a minha poesia é natural corno o levantar-se
vento..."
(O Guardador de Rebanhos – Alberto Caeiro(Fernando
Pessoa))
*Lio Ribeiro – Jornalista
Olho e comovo-me,
ResponderExcluirComovo-me como a água corre quando o chão é inclinado,
E a minha poesia é natural corno o levantar-se vento..."