11 de mai. de 2012

Educação

Educação é a ponta do iceberg do sistema

João Batista Libânio
Professor na Faculdade jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE)


"Los indignados" da Espanha protestam por vaga de trabalho. Em Londres querem usufruir dos mesmos benesses que os bem providos em libras. Nos Estados Unidos veem o Wall Street -Rua do Muro- como muro que os separa do mundo do dinheiro, reservando-o principalmente para os detentores de gigantescos capitais. E no Chile?

Aí o grito vai mais fundo. Por trás escondem desejos semelhantes aos de outros países, mas preferem acentuar a mudança de todo o sistema por causa dos efeitos funestos sobre a educação.

Centenas de milhares de jovens lotam ruas em Santiago e em outras cidades do país. "E vai cair, e vai cair, a educação de Pinochet!", gritam em protesto. Duas palavras mágicas: educação e o terrível governo de Pinochet de triste memória pelos crimes contra os direitos humanos. "A educação não se vende, se defende!". A comercialização escandalosa da educação beneficia duplamente os privilegiados. Pagam bem a educação básica e assim conseguem ocupar os melhores lugares gratuitos nos estudos universitários. Os pobres acedem "gratuitamente" às escolas públicas de nível médio, mas com formação deficiente só conseguem entrar nas faculdades particulares e caras a fim do continuar os estudos.

Terrível jogo do sistema. Estrangula os pobres pelos dois lados. Oferece-lhes pior formação fundamental e impede-lhes o acesso aos melhores centros de cultura universitária. A elite continua a garantir-se a hegemonia do poder por meio da cultura e da educação.

A lei da cota trouxe migalha crítica, mas não sem efeitos negativos colaterais. Remendos não mudam o tecido inteiro. Aí está o problema. Os jovens chilenos gritaram contra tal esquema semelhante ao nosso: "Fim do lucro na educação!". Ao policiamento que invocava impor ordem, exclamaram: "O povo tem mais necessidade de dignidade que de ordem!".

A educação não passa da ponta do iceberg do sistema. Esse carece ser transformado. Assim comentava o porta-voz da Confederação de Estudantes do Chile: "Temos que começar a falar dos problemas sistêmicos, de mudar de paradigma".

A líder estudantil Camila Vallejo desafiou os cépticos que apelavam para as análises sociológicas sobre a inércia dos jovens pós-modernos. Dizem: "Estão cansados das marchas". Pois não veem nenhum efeito de mudança real no sistema capitalista neoliberal apesar de todo o barulho juvenil. Os grandes do mundo financeiro repetem a mesma vergonhosa ladainha de sempre: salvar os bancos com dinheiro público. E quando o Estado ameaça tocar-lhes em algum privilégio ou fonte de renda, as reações da imprensa liberal não tardam. Estamos a ver aqui no Brasil a batalha da baixa dos juros. Talvez a situação do Brasil, com real melhora das camadas populares por obra dos últimos governos, dificulte perceber que o problema da educação permanece ainda grave e injusto. E que os gritos dos jovens chilenos merecem ecoar entre nós e provocar reações semelhantes. Sem educação de qualidade para todos não há futuro para as classes populares nem para o país!

Fonte:  http://www.adital.com.br/jovem/noticia.asp?boletim=1&lang=PT&cod=66852

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