29 de jan. de 2016

Nosso Primeiro Rei Momo


Compositor Lopes Bogéa
Nosso Primeiro Rei Momo -  autor: Lopes Bogéa*

O primeiro Rei Momo do carnaval maranhense surgiu no carnaval de 1932, logo após a Revolução tristemente célebre. Aliás, as músicas ou modinhas do carnaval desse ano quase sempre se referiam àquele episódio histórico, gozando com os que haviam entrado pelo cano. Lembro-me que uma das músicas mais cantadas na época era a que se referia à queda do presidente Washington Luís e uma de suas estrofes dizia:

"Caiu de podre, quebrou
O barbado, se estrepou."

O fato mais badalado do carnaval maranhense era a chegada do Rei Momo.
A imprensa abria manchete detalhando o evento anunciando que o monarca da folia ia chegar procedente do Rio de Janeiro no dia e hora tais e que seu desembarque triunfal ia se dar na estação de trens João Pessoa. A população era conclamada a se fazer presente para saudar o "Rei". O que se viu naquela tarde de sábado gordo foi algo fora do comum. Uma multidão compacta ansiava pela chegada da comitiva e, quando a "Maria Fumaça" apitou na entrada do túnel do Genipapeiro, foi aquele Deus nos acuda. Como ninguém sabia onde exatamente seria o desembarque de Sua Majestade, houve um corre-corre danado que acabou com gente saindo de braço quebrado e cara amassada. Se fosse um rei de verdade talvez a coisa não tivesse tanto efeito. Na hora em que a composição férrea entrou na plataforma, um foguetório ensurdecedor tomou conta da gente, palmas, apitos, música, completo delírio popular.

Os primeiros a descer foram os vassalos, trajados de fofões com muitos guizos, formando ala dupla, para proteger a descida do "Rei". Faziam muitas acrobacias, o que dava um colorido todo especial ao espetáculo. Esses vassalos eram formados por grandes foliões da época tais como Nhô Prado, Lauro Serra, Valentim Maia, Evandro Rocha, Benedito Silva, Tiago Silva, Augusto Monteiro da Rocha, Amadeu Aroso, os Gandra (Murilo, o Espanador da Lua e Cirano), Jesus Norberto Gomes, Frazão Carrapeta, e tantos outros da fuzarca que o tempo já não me permite recordar. Era gente que sabia brincar e fazer os outros caírem na folia. Gritos, cantoria assobios, serpentinas, confetes, rebuçados, pastilhas, pitombas eram atirados para o ar, numa alegria que contagiava a todos.

Finalmente, eis que se dá o grande e ansiado momento, aguardado com enormes expectativas por todos. O Rei desce no lombo de um boi, este todo pintado e com uma máscara na focinheira. Sua Majestade acena e joga beijos para a multidão que corresponde ao entusiasmo e vibra delirantemente. Todos queriam ver de perto o monarca, o primeiro Momo que aparecia na terra. Surgiam conjecturas e até mesmo apostas: quem é esse rei tão animado? Será fulano? Será sicrano? Curiosidade geral: ele não era outro senão o homem mais popular e humano que conheci naqueles idos, o grande Luciano Neves.

Sei que a turma jovem vai me tachar de saudosista, mas a realidade, minha gente, é que aquele sim, era o terceiro carnaval do mundo. Brincava-se muito, havia mais espontaneidade e muito mais riqueza nas fantasias. Não se gastava tanto. Afinal, os tempos são outros. Sei que hoje as limitações
econômicas e a organização (?) excessiva prejudicam a expansão dos foliões, mas, que se há de fazer?

*Extraído de BOGÉA, Lopes. Prosopéias. São Luís, 1979.
Fonte: http://www.cmfolclore.ufma.br/arquivos/9e0e629eeb957c013c2fc11b9a2e2ff7.pdf

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